Considero Christopher Nolan como um cineasta do excesso. Excesso desnecessário. Seus filmes, para mim, são cheios de excessos e explicações desnecessárias que não precisavam estar ali para compreender o que o diretor ou a história quer dizer. No entanto, em “Oppenheimer” ele conseguiu superar esse seu erro – comum em seus outros filmes – e fazer um filme sem ter mirabolantes explicações de conceitos científicos em diálogos super acelerados. O que para mim foi uma boa surpresa. Ainda mais pensando que o tema do filme era um físico e que seria muito fácil o diretor se meter a tentar explicar para nós todos os pormenores da ciência que estamos assistindo sendo desenvolvida ali.
A história de Oppenheimer ( Cillian Murphy) se mistura com a história política mundial. Não há como pensar na figura dele sem pensar na sua influência durante e no pós Segunda Guerra Mundial. Ele foi o diretor do laboratório de Los Alamos, projeto que resultou no ataque nuclear a Hiroshima e Nagasaki. E o que vemos no filme é a história do homem que foi o responsável pela coordenação e o desenvolvimento deste projeto.
Se Nolan não teve excesso de explicações cientificas no seu filme teve excesso no tempo. O filme tem cerca de três horas de duração, mas quase não sentimos o tempo em decorrência dos acontecimentos interessantes que estamos assistindo. São muitos eventos, muitos personagens e muitas histórias se emaranhando no filme e buscamos nos envolver em cada uma delas. O que, por outro lado, atrapalha um pouco a obra como um todo. Explico: são tantas histórias e personagens citados que muitas vezes o tratamento parece ser superficial. Obvio que se fosse lidar com tudo seria mais horas de filmes, mas me pergunto se uma das tarefa de um bom diretor não seja a de sintetizar os assuntos que nós precisamos saber.
Talvez sentimos falta de um melhor desenvolvimento por causa de grandes atores do filme. Da forma que o filme foi lançado parece que a maioria deles ali foram mal aproveitados. Cito uma que, para mim, é uma das maiores e melhores atrizes contemporâneas, Florence Pugh. Seu desenvolvimento na história é pobre e as cenas que envolvem a atriz não fazem jus a grande atriz que ela é. Isso sem falar nas cenas de sexo entre a personagem dela (Jean Tatloc) e Oppenheimer, que são mecânicas e desprovidas de qualquer sentimento. Isto para dizer o mínimo.
Quando assistimos ao filme vemos o quanto o físico era uma figura contraditória. Foi durante um tempo um simpatizante de algumas ideias comunistas, chegando até a enviar dinheiro para a Espanha durante a guerra civil. Vemos também que ele se envolveu com sindicatos e que isso desagradou uma parte de seus colegas. Mas, ao que parece, abdicou de tudo para trabalhar para o governo dos Estados Unidos e conseguir notoriedade como um cientista. O filme consegue nos mostrar bem esta contradição deste personagem histórico.
Vemos também o quanto o envolvimento com a bomba impactou sua vida. Principalmente após ele tomar conhecimento do estrago que causou na vida das pessoas que foram atingidas por ela. Essa sensação de culpa parece ter sido carregada por Oppenheimer durante uma boa parte de sua vida. Parece também que, em determinado momento, ele tem um vislumbre do que o futuro lhe guarda, utilizado como uma peça de xadrez que hora pode muito bem ser descartada com uma recompensa de tampinha nas costas. Ele tem noção de que isso vai acontecer com ele graças a algumas palavras trocadas com Albert Einstein (Tom Conti).
No geral o filme consegue nos mostrar uma parte da história do físico conhecido como “pai da bomba”. Além de parecer ser um alerta para o que pode acontecer se houver mais guerras e conflitos bélicos no mundo. Se houver um de proporções mundiais ninguém estará a salvo, muito menos o mundo como conhecemos.