Nessa época de premiações do cinema, nós cinéfilos corremos para maratonar todos os filmes que podemos, principalmente aos que concorrem a maior categoria do Oscar, a de “Melhor Filme”.
No ano passado Bong Joon-ho levou a maioria dos prêmios da premiação, lembro de ouvir que “Parasita” não falava de uma realidade que existe só da Coréia, mas sim de algo presente em todos os países. Isso é um fato, já que o que vimos no filme é uma reflexão sobre o capitalismo em suas mais diversas formas e aquelas cenas do filme são facilmente identificáveis em outros países. Afinal, o capitalismo é uma constante em todo o mundo.
A maioria dos filmes indicados à categoria de “Melhor Filme” do Oscar desse ano discutem, cada um à sua maneira, um pouco dos Estados Unidos. Alguns com uma vertente mais histórica, como é o caso de “Judas e o Messias Negro” e o “Os 7 de Chicado”. “Mank” também pode entrar nessa categoria, já que o tema do filme é retratar os bastidores e os conflitos de uma das maiores obras da história do cinema.
Por outro lado temos “Minari” e “NomadLand” que dialogam sobre a vida nos Estados Unidos. Tanto para quem vive no país quanto para as pessoas que buscam nele uma oportunidade de uma nova vida.
“Minari” se passa nos anos 1980 nos Estados Unidos e vai mostrando através da perspectiva de uma criança como é esse processo de adaptação da vida nos Estados Unidos. A criança é David (Alan S. Kim), filho de Jacob (Steven Yeun) e Monica (Han Ye-Ri) que se mudam para uma espécie de trailer (que está fincado no chão) para que Jacob consiga ir em busca de seu sonho de trabalhar para si mesmo em sua fazenda. Com a dificuldade causada pelo trabalho e toda a rotina na fazenda Soonja (Yoon Yeo-jeong), mãe de Monica, se muda para morar com a filha e o genro, isso cria um choque entre a cultura em que a família estava inserida (leia-se estadunidense) com a cultura que chega com a avó (coreana).
Em “NomadLand” temos Fern (Frances McDormand) uma mulher que se vê uma situação de nômade moderna, sendo obrigada a viver na estrada em sua van em busca de trabalhos temporários para sobreviver. Somos apresentados a diversos personagens, que na verdade não são personagens e sim pessoas reais contando suas histórias e reflexões da vida na estrada. Vemos as dificuldades que as pessoas passam nessa vida – que não, não é por escolha -, as dificuldades causadas pelos subempregos que elas são obrigadas a aceitar para continuar com sua vida e, claro, como empresas de grande porte se utilizam dessas pessoas para lucrar ainda mais tendo que gastar o mínimo possível.
Em resumo, “Minari” e “NomadLand” refletem esse lado dos Estados Unidos, o país da liberdade, que se pararmos para olharmos para além de sua aparência, veríamos o que realmente acontece em um país que leva o capitalismo até as suas últimas consequências: xenofobia, racismo, subempregos e exploração. Essas e outras problemáticas aparecem claramente nesses dois filmes que comentamos aqui.
Outro assunto presente nos filmes do Oscar desse ano, e não poderia ser diferente dado aos acontecimentos históricos daquele país, foi o racismo. Filmes como “Judas e o Messias Negro”, “Uma Noite em Miami”, “A Voz Suprema do Blues”, o vencedor na categoria de curta metragem “Dois Estranhos” e “Os 7 de Chicado” (afinal, eram 8) discutem as diferentes manifestações do racismo na sociedade, sobretudo na estadunidense.
Tudo é fruto do seu tempo, os filmes representam o seu tempo, suas inquietações, suas dúvidas, suas indignações, seus medos, suas raivas, enfim, tudo que o mundo sente a arte vai reproduzir e o Oscar de 2021 não foi diferente.